Recentemente, o circuit breaker foi acionado na bolsa de Tóquio após uma queda brusca nos índices, refletindo o pânico global desencadeado pelas novas tensões comerciais entre Estados Unidos e China

Essa medida emergencial, que também já foi usada diversas vezes no Brasil, tem como objetivo conter o colapso emocional dos investidores e evitar que perdas ainda maiores se acumulem.

Apesar de acontecer em casos muito específicos, a verdade é que isso interfere nas suas aplicações financeiras de renda variável.

Logo, se você quer saber como investir melhor na bolsa de valores do Brasil ou de qualquer outro país, precisa entender esse sistema, quando ele é ativado e quais são suas consequências.

Sumário

O que é circuit breaker?

O circuit breaker é um mecanismo de segurança adotado nas principais bolsas de valores do mundo. Ele paralisa as negociações em situações atípicas, como crises financeiras e quedas acentuadas de um indicador financeiro. 

Assim, os investidores são obrigados a parar as operações para proteger o equilíbrio do mercado, acalmar os ânimos e voltar a um cenário de volatilidade controlada.

Para os investidores, essa ferramenta é ideal para evitar perdas excessivas devido à alta volatilidade. Dessa forma, nenhuma operação é realizada durante determinado período do pregão, seguindo regras específicas.

Depois de um tempo, a tendência é que os ânimos se acalmem e os investidores consigam se planejar. Assim, evita-se uma redução descontrolada do preço dos ativos, que levaria a uma quebra gigante do mercado.

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Como funciona?

O circuit breaker funciona de acordo com regras específicas da bolsa de valores. Na B3, ele é acionado quando o Ibovespa chega a uma queda equivalente a 10%, em comparação com o dia anterior. Assim, as negociações são interrompidas por 30 minutos. 

Então, o pregão é reiniciado e, se chegar a uma redução de 15%, há mais uma parada — dessa vez, por 1 hora. Ainda pode haver uma terceira pausa, por tempo indeterminado, se a retração atingir 20%.

O Ibovespa é utilizado por ser o principal indicador da bolsa de valores brasileira. Assim, ele é a referência para determinar a queda do mercado, já que apresenta o desempenho médio das ações das empresas mais importantes da B3.

Por sua vez, outras bolsas mundiais, como NYSE e Nasdaq, vão utilizar indicadores diferentes, conforme a sua realidade. As regras também podem alterar, apesar do objetivo ser sempre igual: atuar como um mecanismo de proteção.

Por que acontece o circuit breaker?

O circuit breaker acontece para evitar uma queda ainda maior da bolsa de valores. Ou seja, já foi registrada uma retração forte do Ibovespa e o mecanismo é acionado para impedir que mais oscilações bruscas e atípicas sejam realizadas no mercado de ações. 

Isso serve para proteger os investidores e o próprio mercado de ações, considerando que o pânico generalizado gera muitas vendas de ativos e poucas compras.

Se não houvesse esse controle, as empresas de capital aberto tenderiam a perder um valor de mercado muito alto. Assim, elas teriam dificuldade para se recuperarem e captarem recursos, inviabilizando a manutenção dos investimentos.

Ao mesmo tempo, os investidores veriam sua carteira de investimentos apresentarem uma queda muito forte. Assim, o capital poderia até ruir nesse mercado disfuncional.

O grande problema é que nem sempre existe um motivo verdadeiro para isso. Normalmente, essas situações de crise são geradas por alguma notícia momentânea e serão recuperadas em breve. Então, as perdas generalizadas prejudicam a todos e precisam ser evitadas.

Por que o circuit breaker foi criado?

O circuit breaker foi criado para impedir a volatilidade excessiva do mercado financeiro. Assim, há proteção para o sistema e os investidores que atuam nele. 

No caso do Brasil, o mecanismo de segurança foi implementado em 1997, paralisando as operações nos casos de queda expressiva do Ibovespa. Nos EUA, a ferramenta surgiu depois da Black Monday Crash, em 1987.

Circuit breaker no Japão em 2025: proteção contra o colapso global dos mercados

Circuit breaker no Japão em 2025: proteção contra o colapso global dos mercados
(Foto: REUTERS/Kim Kyung-Hoon/File Photo)

O caso mais recente de circuit breaker veio do Japão. Diante de quedas abruptas na bolsa de Tóquio, o mecanismo foi acionado logo nas primeiras horas do pregão da segunda-feira (07 de abril).

O motivo para paralisação veio do agravamento das tensões comerciais entre Estados Unidos e China, reacendidas pela retórica protecionista do presidente Donald Trump. A escalada verbal vinda de Washington é vista por analistas como o estopim de uma nova guerra comercial, agora de proporções globais, alimentando um cenário de incerteza que afeta diretamente a confiança dos investidores.

O impacto foi imediato e sincronizado. Além do Japão, o índice Hang Seng, em Hong Kong, afundou mais de 13%, registrando a pior queda diária desde a crise de 1997. As bolsas europeias operam em baixa generalizada, enquanto Wall Street se prepara para mais uma sessão de perdas expressivas, após uma semana em que US$ 5,4 trilhões evaporaram do mercado americano.

A paralisação das negociações no Japão simboliza o grau de instabilidade que tomou conta dos mercados. O circuit breaker, nesse contexto, não é apenas uma medida técnica, mas um alerta de que a desconfiança atingiu um ponto crítico.

Nem mesmo o ouro, tradicional refúgio em tempos de crise, conseguiu escapar. Seu recuo leve indica que os investidores estão vendendo ativos de segurança para cobrir perdas em outros pontos de seus portfólios. Trata-se de uma crise de liquidez e confiança, em que todas as âncoras estão sendo testadas.

O acionamento do circuit breaker na bolsa de Tóquio, portanto, sintetiza o colapso de um mercado sem perspectivas claras de melhora.

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Quais são as regras do circuit breaker na Bolsa de Valores do Brasil?

As regras do circuit breaker na B3 são:

  1. queda de 10% do Ibovespa, em relação ao dia anterior: pausa de 30 minutos;
  2. queda de 15% do Ibovespa, em relação ao dia anterior: pausa de 1 hora;
  3. queda de 20% do Ibovespa, em relação ao dia anterior: pausa por tempo indeterminado;
  4. registro de queda nos 30 minutos finais de negociação do mercado: é proibido acionar o circuit breaker;
  5. registro de queda nos últimos 60 minutos do pregão: o horário de encerramento deve ser ampliado por até 30 minutos, no máximo;
  6. registro de queda nos últimos 60 minutos do pregão: na reabertura do mercado no dia seguinte, é possível fazer uma nova paralisação de 30 minutos.

Para entender melhor, é preciso saber que o mercado começa a funcionar normalmente. No entanto, quando atinge esse patamar de retração de 10% do indicador principal, as negociações são interrompidas por 30 minutos.

Nesse período, ninguém pode comprar ou vender. O objetivo é que os investidores deixem de agir com base no pânico e possam pensar em uma nova estratégia para o mercado se reequilibrar.

Então, o pregão volta a funcionar. Se houver novas quedas e o Ibovespa atingir uma retração de 15%, um novo circuit breaker é acionado e fica ativo por 1 hora.

O mercado é reaberto. Em caso de chegar a uma perda equivalente a 20%, a B3 suspende as negociações por tempo indeterminado e define um novo prazo para sua retomada.

No entanto, esse mecanismo nunca pode ser ativado nos 30 minutos finais do pregão. E se a queda do Ibovespa acontecer na última hora, é preciso aumentar o horário de funcionamento da bolsa por até 30 minutos e suspender as negociações. 

Além disso, pode haver uma nova interrupção no dia seguinte por até meia hora, caso seja necessário.

Quanto tempo dura o circuit breaker?

O circuit breaker dura 30 minutos na primeira interrupção, quando o Ibovespa registra uma queda de 10% quando comparado ao dia anterior. 

Se forem registradas novas retrações, a suspensão vai levar 1 hora (diminuição de 15%) e até um tempo indeterminado (redução de 20%), com retomada das negociações pela B3.

Qual a diferença entre leilão de ação e circuit breaker?

Qual a diferença entre leilão de ação e circuit breaker?
Foto: Envato

A diferença entre leilão de ação e circuit breaker se refere à influência desses mecanismos de proteção. O primeiro interfere nas operações de um ativo específico, tem um tempo menor de atuação e permite negociações indiretas. 

Enquanto isso, o segundo abrange todo o mercado, suspendendo qualquer negociação da bolsa de valores. Então, esse último é mais abrangente, ainda que ambas as ferramentas tenham o mesmo objetivo geral.

Em outras palavras, o leilão de ações é outro mecanismo de proteção da bolsa de valores e dos investidores em situações de volatilidade excessiva. Porém, ele se refere a um ativo específico e vale tanto para a alta quanto para a queda.

Assim, as ações dessa empresa são retiradas do pregão por 5 minutos, sendo que pode haver uma prorrogação por mais 5 minutos. Nesse período, é possível comprá-las e vendê-las, mas não naquele momento. Afinal, as negociações estão suspensas.

Todas as ofertas feitas pelos investidores são registradas e, depois do retorno das operações, elas são executadas quando os preços se encaixam. Isso evita a continuidade do descontrole e o reequilíbrio em relação a essa ação em específico.

O que acontece com os outros ativos do mercado durante o leilão? Absolutamente nada. Tudo continua funcionando normalmente.

Portanto, é algo bem diferente do circuit breaker. Nesse caso, todas as negociações são interrompidas, porque há uma queda geral do mercado — não de apenas um ativo.

Regras para ativação do leilão de ações

  1. Oscilações superiores a 10% no valor da ação em comparação com o fechamento de mercado do dia anterior, antes das negociações serem abertas.
  2. Oscilações superiores a 10% no valor da ação em comparação com o fechamento do pregão anterior, durante as negociações do dia.
  3. Oscilações entre 10% e 19,99% sobre o último preço do ativo antes de entrar em leilão.

Quando o circuit breaker foi acionado no Brasil?

O circuit breaker foi acionado na B3 em situações de crise. Os casos mais recentes foram em março de 2020, mas também houve registros em 1997, 1998, 1999, 2008 e 2017. Nesses momentos, o Ibovespa registrou uma queda de 10%, em comparação com o dia anterior. 

Quando isso acontece, há uma interrupção por 30 minutos, mas pode haver mais duas suspensões das negociações, de 1 hora e por tempo indeterminado, caso o indicador tenha baixas de 15% e 20%.

Situações em que o circuit breaker foi acionado na B3

  • 1997: foi gerado pela crise financeira na Ásia, que levou a quedas nas bolsas mundiais;
  • 1998: foram registrados 5 circuit breakers devido a uma crise financeira na Rússia;
  • 1999: os ativos da bolsa sofreram fortes perdas devido à desvalorização do real e crescimento do dólar;
  • 2008: o mecanismo foi acionado 6 vezes por conta da crise financeira dos EUA;
  • 2017: as crises políticas brasileiras geraram a ativação do circuit breaker;
  • 2020: houve acionamento do mecanismo por 6 vezes somente no mês de março devido à pandemia de COVID-19 e a crise do petróleo.

Assim, fica claro que as crises podem ser motivadas por diferentes fatores, tanto externos quanto internos. Se a pandemia de COVID-19 mostra que um problema sanitário pode gerar reflexos no mercado de capitais, em 2017 foi a política brasileira.

Na época, a gravação do então presidente Michel Temer com Joesley Batista, executivo da JBS, causou impactos devido à corrupção e à possibilidade de impeachment. Já em 2008, o problema foi a crise do subprime, isto é, a bolha imobiliária americana que afetou vários países.

Leia também: Como investir na bolsa de valores do Brasil, a B3?

Como funciona o circuit breaker nos EUA?

O circuit breaker nos EUA funciona como um mecanismo de proteção, mas segue outras regras. O primeiro acionamento acontece com a queda de 7% do S&P 500, sofrendo uma interrupção das negociações por 15 minutos. 

Caso ainda sofra retrações, uma nova suspensão de 15 minutos acontece com a baixa para 13%. Ainda existe o terceiro nível de ativação, caso a redução chegue a 20%. Nesse caso, o pregão do dia é encerrado.

Perceba que o foco, assim como no Brasil, é evitar uma desvalorização excessiva, que é prejudicial para mercado e investidores. Portanto, a interrupção das negociações busca trazer racionalidade ao mercado.

Contudo, existem diferenças nas regras e no indicador utilizado. Por exemplo, o período de suspensão das negociações é de 15 minutos, no máximo. Ou seja, ele não é fixo.

Aqui, vale lembrar que o circuit breaker foi implementado nos Estados Unidos em outubro de 1987, na chamada Black Monday Crash. Nesse dia, o índice Dow Jones caiu 22,6% devido a uma crise global no mercado de ações. Com esse efeito em diferentes bolsas de valores mundiais, esse mecanismo surgiu.

No entanto, seu primeiro acionamento foi realizado em 1997 pelo mesmo motivo do Brasil: a crise econômica na Ásia. Nesse momento, o Dow Jones começou a seguir o sistema do S&P 500.

Por quê? O indicador Standard & Poor’s 500 traz o desempenho dos 500 principais ativos listados na Nyse e na Nasdaq. Eles são escolhidos de acordo com a liquidez, tamanho de mercado e representação. Portanto, uma baixa nesse índice traz reflexos em todo o mercado de capitais americano.

Depois do acionamento do mecanismo em 1997, ele só voltou a ser ativado em 2020, sendo que ocorreu 4 vezes em 8 pregões. Ou seja, nem a crise do subprime, em 2008, foi capaz de trazer impactos significativos.

Qual o impacto do circuit breaker para os investidores?

O impacto do circuit breaker para os investidores é a proteção do portfólio, já que ele evita uma queda brusca e excessiva no preço dos ativos. 

Assim, os investidores têm tempo para se acalmar, traçar uma estratégia e deixar a reação impulsiva de lado. Ou seja, força-se uma estabilização para impedir que medidas desesperadas sejam tomadas e afetem todo o mercado.

Nesse momento, é preciso ter calma para analisar a situação e saber que ela é temporária. Isso porque as situações de crise dão sinais claros de quem pode acontecer. Então, é importante esperar e evitar agir de maneira impulsiva, porque essa tende a ser uma estratégia mal sucedida.

Nessas situações, é recomendado deixar operações de day trade e swing trade de lado, pelo menos por alguns minutos. Afinal, a tendência é que o mercado se recupere, mesmo que seja no longo prazo.

Por isso, vale a pena contar com uma assessoria de investimentos, que fará as melhores indicações para o momento vivenciado.

De toda forma, entender o circuit breaker e saber que ele é temporário faz parte do conhecimento sobre o mercado financeiro. Afinal, ainda que os ativos da renda variável sejam investimentos de alto risco, é fundamental compreender esse processo para evitar prejuízos para a carteira.

Equipe MI

Equipe de redatores do portal Melhor Investimento.